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Jorge Alexandre Moreira

A Esquadrilha 19 (Triângulo das Bermudas - Ep. 2)


"Os membros da Comissão de Inquérito não foram capazes nem mesmo de dar um palpite razoável sobre o que ocorreu".

Capitão W. C. Wingard, Oficial de Informação, sobre o desaparecimento da Esquadrilha 19


"Eles sumiram tão completamente como se tivessem voado para Marte".

Um membro da Comissão de Inquérito, falando sob condição de anonimato



5 DE DEZEMBRO DE 1945 - BASE AERONAVAL DE FORT LAUDERDALE, FLÓRIDA

O Cabo Allan Kosner abriu os olhos, sentou-se na cama, olhou ao redor. Era o meio da tarde. Ele havia tirado um rápido cochilo pós-almoço e, dentro de alguns minutos, precisava se apresentar ao comando de sua missão. Ele tinha um voo de treinamento aquela tarde. Um como outros tantos de que já participara, em suas 300 horas de voo. Kosner era um veterano de guerra que havia participado da violenta campanha de Guadalcanal, no Pacífico Sul, e que só tinha mais 4 meses de serviço, antes de ser dispensado.

Mas, súbito, Kosner decidiu que não queria participar daquele voo.

Ele se apresentou ao Tenente Wirshing, oficial responsável pelo treinamento daquele dia.

— Por que? - perguntou o tenente.

— Não sei, senhor. Apenas não quero.

— Você já cumpriu suas horas de voo desse mês?

— Sim, senhor.

— Tudo bem. Apresente-se ao médico e peça para ser dispensado.

Allan Kosner deu meia-volta e se retirou.

O Tenente Wirshing reuniu o pessoal de voo para o briefing, mas o instrutor que comandaria a missão, Tenente Charles Taylor, ainda não tinha chegado. Ele chegou às 13:15, pedindo desculpas pelo atraso, e foi direto ao Tenente Wirshing.

— Gostaria de ser dispensado.

— Mais um? Qual o problema?

— Não quero ir nesse voo.

— Sinto muito, não tem nenhum outro instrutor disponível. Vai ter que ir.

E assim, às 14h de uma tarde de céu limpo e tempo bom, Charles Taylor, com 2500 horas de voo e 10 meses de operações de guerra no Pacífico, decolou para o último voo de sua vida. Atrás dele, em formação, outros 4 bombardeiros Avenger TBM, cada um com três tripulantes.

Era um treinamento simples. Voar 250 km para leste sobre o mar, soltar algumas bombas em uma estrutura de concreto abandonada; virar para norte, voar mais 65 km; fechar a perna do triângulo, voando 260 km para sudoeste até a base.

Às 15:15, no entanto, a torre de controle de Fort Lauderdale recebeu uma estranha transmissão do comandante da esquadrilha, Tenente Taylor.

— Chamando a torre. Isto é uma emergência. Parece que estamos fora do rumo. Não consigo ver a terra... Repito... Não consigo ver a terra.

— Qual sua posição?

— Não estamos certos de nossa posição. Não tenho certeza de onde estamos... Parece que estamos perdidos.

— Mude o rumo para Oeste.

— Não sabemos para onde é o Oeste. Tudo está errado... Estranho... Não temos certeza de nenhuma direção. Até o oceano parece diferente. Esquisito.

Alguns minutos depois, o Tenente Cox, que voava próximo a Fort Lauderdale, pegou uma transmissão dos pilotos do voo 19 falando entre si.

— Powers, o que sua bússola está mostrando? Acho que nós nos perdemos depois daquela volta. Cox tentou contato, mas ninguém respondeu. O piloto não identificado perguntava repetidamente a Powers sobre o que dizia sua bússola. Powers era um dos pilotos da Esquadrilha 19. Cox só conseguiu contato com Taylor às 16:21.

— Minhas duas bússolas pararam de funcionar - disse o tenente, em tom nervoso. - Estou tentando encontrar Fort Lauderdale. Passei sobre ilhas, tenho certeza que são as Keys, mas não sei onde.

Cox disse a Taylor que usasse o sol para se orientar, mas como ele não respondeu, disse:

— Estou indo para o Sul encontrar vocês.

— Não venha atrás de nós!

— FT-28, estou indo atrás de vocês!

— Acabamos de passar por uma pequena ilha. Não há mais nenhuma terra à vista (estática). Estamos em águas brancas. Estamos completamente perdidos A partir desse ponto, Cox não conseguiu mais contatar o Voo 19, mas ainda os ouviu falando entre si. Nenhuma bússola parecia estar funcionando, nenhum dos pilotos sabia onde estava. Logo depois, um relé queimou no rádio de Cox e ele perdeu todo o contato, tendo que voltar para base. Ele pediu para decolar em outro avião para ir atrás do Voo 19, mas o pedido foi negado.

Às 17:50, dois hidroaviões PBM Mariner levantaram voo de Fort Lauderdale. Um deles explodiu sobre o mar, por causas desconhecidas, pouco depois de decolar. Os 13 homens a bordo morreram.

Às 18:20, a última mensagem captada do Voo 19:

— Todos os aviões juntos. Quando o primeiro avião ficar com só 10 galões de combustível, descemos na água, todos juntos.

Perto de meia-noite, Joan Powers, esposa do Capitão Powers, acordou em sua casa, em NY, com o pressentimento de que algo horrível acontecera a seu marido. Ela telefonou para a base e pediu para falar com seu marido, mas foi informada que ele não podia ser contatado.


O que se seguiu, a começar da manhã seguinte, foi uma das maiores operações de busca da história do mundo. Durante 4100 horas, 307 aviões, 4 navios, vários submarinos, 18 barcos da guarda costeira e centenas de aviões e barcos particulares, fazendo uma média de 167 voos diários a 100 m do nível do mar, ao longo de 608 mil km2.


Os pilotos tinham experiência suficiente para pousar seus aviões no mar e os TBMs eram preparados para flutuar por alguns minutos. Os pilotos eram treinados para abandonar os aviões em 60 segundos e as balsas salva vidas eram facilmente acessíveis, do lado de fora das aeronaves.

Mas nada nunca foi encontrado.

O técnico responsável pela aferição dos equipamentos de voo foi levado à corte marcial, mas foi declarado inocente, depois de provar que tinha verificado todos os equipamentos e bússolas, antes da decolagem dos aviões do Voo 19.


O desaparecimento do Voo 19, em tempos de paz, permanece como um dos maiores mistérios da aviação norte-americana. Todo tipo de teoria foi tecida sobre o incidente, de falhas no espaço-tempo a aliens. Nunca se chegou a qualquer conclusão.

Eu disse que a transmissão comandando que todos os aviões descessem no mar, quando um deles ficasse com pouco combustível havia sido a última, mas, talvez, isso não seja totalmente correto.

Uma base aeronaval próxima de Miami captou uma transmissão muito fraca, já à noite, na qual se distinguia apenas os prefixos FT... FT.. em meio a muita estática. FT era o prefixo dos aviões da Esquadrilha 19 e não havia nenhuma outra aeronave usando esse prefixo, na região.


Mas se essa transmissão veio dela, ela veio em uma hora muito estranha.


Pois os aviões já deveriam estar sem combustível há mais de duas horas, quando ela foi captada.


 

Nesse mês, a Vozes do Umbral está dedicada aos mistérios do mar. Já tivemos o Mar dos Navios Perdidos, o navio onde a tripulação foi encontrada morta, com expressões de horror nos rostos, casos em que tripulações desapareceram, deixando o navio em perfeito estado para trás e, agora, estamos no Triângulo da Bermudas, onde muitos entram, mas nem todos saem.

 

Você sabia que chamando gente para a Vozes do Umbral durante esse mês você concorre a livros?

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